terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Quase Perfeito - CAPITULO 3

Eu não sabia se Julia hesitava em dizer algo por medo, por vergonha ou por qualquer outra coisa, mas eu jurava que estava seu corpo estava tremendo por alguma razão.
Eu preferia acreditar que era o fato de ter acabado de terminar um relacionamento com alguém do que estar com raiva por ter sido descoberta por duas pessoas na qual estava louca para arrancar os cabelos. Não. Por favor, que não exista essa opção.
Eu nunca briguei com alguém fisicamente, nunca pensei em brigar e acho que nunca brigarei. Isso não faz parte de meus planos. Não enquanto eu tiver corpinho de frango.
- Julia, desculpe. Nós...estávamos entrando na sala para... - Jordana atropelou a si mesma com as palavras. - Não foi intenção. Juro.
Julia nos olhou diretamente um tanto perdida.
Agora eu conseguia ver a sua expressão com clareza. E ela sentia muito medo nesse momento.
- Olhem, não é isso o que estão pensando, eu... - Julia passou a mão nos cabelos.
Ela começou a chorar de repente. Ela respirava rápido e parecia estar prestes a soluçar.
- Vem. - eu simplesmente peguei a sua mão antes que aquela situação ficasse ainda mais constrangedora. - Você precisa se acalmar, lavar o seu rosto. Garotas bonitas não choram em público, ok?
Ela abriu um sorriso triste e nos acompanhou. Eu não sabia lidar com pessoas nesse estado, pois não sabia como confortá-las direito. Naquele momento, eu tinha dado graças à Deus aos livros românticos de adolescentes que nos davam o passo a passo para essa situação. Me arrependi da ultima frase, pois quem dizia aquilo era um garoto para uma garota, mas...por sorte somos duas garotas e não dois garotos. Ufa.
Entramos no primeiro banheiro que avistamos. Qual era mesmo o próximo passo?
Primeiro de tudo ela lavaria o rosto.
E ela fez isso. Caminhou até a pia mergulhou o rosto na água várias vezes.
Enquanto ela enxugava o rosto com o papel, eu começava a montar a novela mentalmente.
E depois? Conversariamos com ela?
Alias, ela quer falar sobre isso? Ou ela é do tipo minhas amigas que preferem guardar pra si?
Além de tudo, não somos amigas. Nem ao menos colegas!
Ok, mas...e se ela desabafar? O que eu respondo depois?
"Sinto muito" pra mim soa como um "Nossa, você está na merda!"
"Isso passa, é só uma fase" soa como um "Seu problema não é nada. Apenas uma dor de barriga passageira."
" Mas você está bem?" é tipo um "Ta, e daí?"
Além disso, todas essas frases, eu pareço estar indiferente. Mas na verdade eu estava realmente chocada e sentida por ela. Eu queria dizer que me importo, mas não queria parecer falsa ou então intrometida demais.
Ta, e eu se eu estivesse no seu lugar?
Eu juro que eu iria correndo.
Mas e ela? O que ela queria que fizessemos?
- Poderiam... - Julia quebrou a minha tagarelice mental. - Manter isso em segredo? - ela disse com a voz quebradiça. - De verdade, é muito importante pra mim.
Assentimos.
- Ninguém sabe disso não é? - Jordana perguntou.
- Não, ninguém sabe. Apenas vocês.  - ela disse um pouco trêmula. - Gente, eu não sei o que fazer...
Sim, ela iria desabafar.
- Quer...conversar sobre isso? - Jordana perguntou da forma mais delicada possível, como se quisesse respeitar o seu espaço.
Julia respirou fundo.
- Eu...preciso me organizar primeiro. Estou meio perdida...- Julia respondeu aflita.
- Claro. - Jordana sorriu. - Precisa se sentir bem...não precisa nos dizer ok? Apenas diga para o seu próprio conforto.
Julia sorriu de volta antes de fungar novamente. Jordana a abraçou.
Admirei por alguns instantes a sensibilidade da Joh.
Como sou idiota. Eu quero ajudá-la, mas não sei como fazer isso. Eu sei como ela se sente e me sinto mal. Só não sei o que a agrada.
Dizem que quando você é sensível você simplesmente faz. O coração manda. E geralmente, as pessoas aceitam.
Bom, mas o meu nessas horas não funciona e daí fica o meu cérebro perdido sem saber o que fazer. Não é falta de sentimento, só falta de saber o que fazer, de como agir.
Voltei ao presente e me dei outra bronca. Em vez de estar fazendo alguma coisa, estou tentando me convencer de que não sou insensível, enquanto tem uma pessoa na minha frente na pior chorando todas as lágrimas de seu corpo.
Eu...deveria abraçá-la também? Não...parece despedida.
Deveria dizer alguma coisa?
Gestos são maiores que palavras.
Então apenas massageei seu ombro esquerdo enquanto Jordana ainda a segurava nos braços pra segurar o seu choro.



    Eram meio dia e vinte. E a hora do jantar estava ficando mais próxima.
Parecia que eu estava começando a sentir o gostinho amargo do ciúmes.
Eu não sabia que era ciumenta até o presente momento. Eu tentava me acalmar pensando "minha mãe será sempre a minha eterna mãe", mas eu queria que ela fosse apenas minha. Sempre foi apenas minha, eu nunca tive que dividir com ninguém. Nem ao menos com o meu pai.
Por que então agora?
Ok, eu sei que já devia parar de fazer pirraça já que estou na faculdade, seguindo o meu caminho, conseguindo dinheiro com o meu próprio suor (que não existe), mas minha mãe é uma pessoa essencial para mim. Eu não vivo sem ela.
- Patrícia!!! - Jordana gritou no meu ouvido.
Bati em seu braço por puro impulso.
- Precisa me bater? Além de me ignorar ainda me bate? - ela estava quase rindo enquanto reclamava.
- Desculpa...eu estava longe. - eu disse.
- Deu pra perceber. - ela disse. - Para não dar a mínima importância ao príncipe encantado que estava passando bem ao seu lado.
- Que príncipe? - perguntei.
- O seu!
- Ele passou?
- Acabou de passar, Paty. - ela riu apontando para frente com o queixo.
Olhei na mesma direção e vi Jungkook conversando com algumas pessoas. Segurava os livros nas mãos formalmente enquanto sorria de forma simpática.
- Ele...é um príncipe né Joh? - perguntei enquanto babava por sua beleza.
Ela não respondeu.
- Acho que o meu príncipe-não-tão-encantado-assim acabou de chegar. - ela disse um pouco séria.
Acordei da magia e voltei para a realidade no mesmo instante. Parei na sua frente e segurei seus braços.
- Joh, vai fazer o que eu disse. Chama ele para jantar ou algo assim. Vocês se gostam! Não deixa isso acontecer! - eu a alertei.
- Eu sei Paty, mas...é que eu estou meio confusa. - ela fez cara triste.
- Confusa como? Acha que está gostando de outro cara?
- Não...nada disso...só...não gosto mais do Namjoon como antes.
- Vai ver que é porque vocês não estão muito bem. Olhe dentro de si e veja se é isso mesmo. Vocês estão há tanto tempo juntos!
Ela assentiu duas vezes e continuou me olhando.
- Faça o que eu disse e depois me conta. - eu pedi.
Ela assentiu novamente.
- Deixa eu ir. Amanhã nos vemos, ok? - ela disse.
- Ok. - respondi. - Até amanhã.
Jordana foi andando em direção ao famoso carro preto do Namjoon. Fiquei observando seu caminho.
- Ela vai terminar com ele. - eu disse pra mim mesma.
Conhecia aquela expressão. Ela estava de saco cheio dele, só não queria dizer.
- E ela não vai chamar ele pra sair. - reclamei.
Chutei algumas pedrinhas que estavam no chão.
 Jordana sentou no carro desconfortavelmente.
 - Não sabia que viria me buscar. - ela disse sem olhá-lo.
 - Oi. - ele a cortou.
 Ela não respondeu enquanto colocava o cinto.
 - Não vai me desculpar? - ele perguntou.
 - Não. Sinto muito. - ela respondeu de forma seca.
 - Eu disse sem querer!
 - Mas disse. - ela rebateu.
 - Mas não pensei.
 - Mas disse.
 - Sabe que eu gosto de voce. Gosto muito.
 Jordana tirou o cinto e saiu do carro.
 - Aonde voce...- ele começou.
 Ela fechou a porta antes que ele dissesse mais alguma coisa.

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