quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Floresta dos Sonhos.

FLORESTA DOS SONHOS.

Eu estava naquele lugar outra vez.
- Droga, porque eu tenho que estar aqui? Já é a segunda vez que sonho com o mesmo lugar e não consigo saber o que eu tenho que fazer aqui!
Fui andando entre as folhagens.
- Pelo menos aqui não tem aqueles insetos nojentos e gosmentos andando no chão, nas árvores...
As árvores. Que eu saiba, elas não são vermelhas. Não mesmo.
Fui andando mais um pouco e foi se tornando cada vez mais vermelho. As flores no chão estava se tornando um amarelo bem vivo.
Aquilo tudo acabou em um lugar lindo. Tão lindo que só podia ser sonho. Olhei ao redor e tinha uma enorme clareira com um banco no centro. Meu coração batia forte, mas eu não sabia porquê. Só sabia que não queria acordar tão cedo. A brisa era gentil e aquele cheiro suave de rosas me fez pensar por um momento o quanto aquele poderia ser meu lugar. Só meu. Ninguém mais sonha com ele.
- Vou batizar de...floresta dos sonhos. - eu disse em voz alta.
Tentei dar um passo à frente, mas meus pés não se moveram. Eu não conseguia passar dali, parecia ter uma barreira. Então só fiquei ali ao lado de uma árvore observando aquela paisagem.
- Eu vou contar meus sonhos, desabafos, minhas vontades para a floresta dos sonhos.
Eu conversava sozinha melhor do que ninguém.
- Seria ótimo esquecer dos problemas na vida real em um lugar desses.
Fechei os olhos.
- Eu quero muito achar a pessoa certa na minha vida. Se eu encontrar quem é o amor da minha vida e casar, com certeza a minha vida vai melhorar completamente.
O vento soprou um pouco mais forte. Eu acabei sorrindo que parecia ser uma resposta. Como se a floresta estivesse absorvendo meu desejo.

Abri os olhos.
- Ah que droga! Por que eu acordei? - resmunguei.
Olhei no relógio.
- Acordei, porque estou atrasada. - disse pra mim mesma.
Num pulo me troquei de roupa já com a escova de dente na minha boca.
- Por que estou escovando os dentes se eu vou comer ainda? - eu não consegui pronunciar nenhuma das palavras por conta da espuma do creme dental.
Enxaguei a boca e olhei no espelho.
- Eu escovei os dentes, porque eu sei que estou atrasada e não vai restar tempo pra comer. - olhei em meus olhos.
Dei um sorriso checando os dentes.
- Ótimo. Tchau. - despedi da minha imagem.
Desci as escadas quase tropeçando nos meus próprios pés.
- Tchau! - despedi da casa e em seguida tranquei virando a maçaneta para ter certeza de que havia mesmo trancado.
Fui correndo para chegar rápido. No caminha tinha muitas pessoas correndo também.
- Bom dia! - Raine estava acompanhando meu ritmo.
- Bom dia! - eu disse sem muito reparar nele.
- Atrasada de novo?
- É...eu sempre esqueço de colocar o...
- Celular pra despertar?
- É! - eu disse rindo.- O que? Como sabe?
- Eu também esqueço. - ele riu.
- É...realmente somos cérebro compartilhado. - eu ri.
Ele me deu um tapa de leve no braço e dobramos a esquina.

A sala não estava muito cheia hoje. Era inverno e qualquer frio ou chuva era motivo para faltar.
Raine e eu sentamos nas primeiras filas.
- Terminou o exercício de ontem? - ele perguntou.
- Ah meu Deus! Esqueci! Comecei a assistir um filme e esqueci de terminar...
Raine espremeu os olhos pra mim.
- Eu vou terminar rapidinho... - ergui os ombros já sentindo o tom de bronca de Raine.
Ele sorriu.
- Ai ai, tendo um amigo assim pra que um pai não? - eu disse.
O sorriso dele se desfez.
- Não fale assim... - ele disse.
- Mas é verdade! Você faz esse papel melhor do que ninguém!
- É...se não sou eu para colocar você na linha...
- Aaah quem vê pensa não? - coloquei a mão na cintura.
Realmente eu tinha um respeito grande pelo meu melhor amigo como se ele fosse meu pai de verdade. Raine sempre foi o amigo que cuida de mim, me ajuda em tudo que preciso. Se eu não tivesse ele, acho que minha vida realmente seria um nada. Literalmente dizendo.
Comecei fazer as contas rapidamente.
O professor Jack apareceu na sala cumprimentando com um grande sorriso.
- Odeio esse sorriso. - Raine disse.
- Esse sorriso significa prova surpresa não é?
- E você ainda pergunta?
Jack sentou na cadeira de professor e tirou da bolsa um punhado de papel.
- Sentem em fileiras separadas pulando uma carteira. - ele disse batendo os papéis verticalmente contra a mesa para ajeitá-los.
- Ah era só o que faltava... - Raine disse revirando os olhos.
- Boa sorte. - eu disse.
- Pra você também.
Corri os olhos pelas perguntas e fiquei feliz por saber todas as respostas.
Fui a primeira a entregar a prova. Saí da sala e fui andar um pouco pelo pequeno jardim da escola. Era pequena, mas era o bastante para eu pensar no meu sonho. Eu queria estar na minha floresta tentando esquecer um pouco de tudo.
Sentei ali na grama e fechei os olhos para tentar refazer a imagem da floresta. Não foi preciso muito esforço para isso.
- Eu queria mesmo era poder estar com a minha mãe em casa. Cuidando do seu corpo e poder tocar seu rosto liso admirando o quanto ela é bonita...podendo dizer...o quanto eu amo ela.
Abri os olhos e respirei fundo tentando segurar as lágrimas.
- Eu sei. - ouvi uma voz atrás de mim.
Olhei para trás.
- Raine, poderia pelo menos me avisar quando estiver por perto? Eu ainda acabei dizendo o que penso...
- Desculpe, mas você os pronuncia em voz em alta e não pude deixar de ouvir.
Ele sentou na minha frente.
- Não precisa esconder nada de mim. Eu sei quase tudo sobre você lembra? - ele disse.
- É...eu sei...
Ele olhou pra mim fixamente.
- Eu sinto muita a falta dela em casa. De verdade, Raine. Eu me sinto tão sozinha...
Ele fechou os olhos e assentiu uma vez. Ele segurou a minha mão por um instante.
- Você não está sozinha. Eu sempre, sempre vou estar aqui quando você precisar. - ele disse.
Eu o abracei.

Voltando pra casa, Raine não dizia uma palavra se quer. Ele me conhecia tão bem que sabia que eu gostava de silêncio quando queria pensar.
Ele me deixou na frente de casa.
- Se cuide. - ele disse. - Coma direito e não se esqueça de escovar os dentes. - ele não perdia o costume.
- Ok, obrigada. - agradeci sentindo o meu lábio subindo para o lado direito.
Ele bagunçou meu cabelo.
- Te vejo amanhã. Qualquer coisa você me manda mensagem. - ele disse caminhando para sua casa.
Assenti para suas costas.
Entrei em casa e observei aquele vazio. A casa tão silenciosa e vazia.
Fechei os olhos e lembrei da minha mãe cozinhando e dizendo que eu havia chegado atrasada, que não era pra ficar andando pela rua sozinha.
Subi para o quarto e troquei de roupa.
Desci e cozinhei qualquer coisa para comer. Não sentia fome na verdade, mas eu não poderia ficar doente agora então tratei de me cuidar direito.
Escovei os dentes e fui em direção ao hospital.

Entrei no quarto e minha mãe estava ali deitada respirando devagar.
- Oi mãe...
Ela abriu os olhos e devagar olhou para mim.
- Stella... - ela sorriu de leve com sua voz rouca.
Minha garganta formou um nó.
Deixei a marmita que fiz pra ela em cima da mesa e sentei do seu lado.
- Está tudo bem em casa? - ela perguntou devagar.
- Sim mãe, só sentindo a sua falta.
Ela fechou os olhos e sorriu.
- Parece que alguém está sentindo falta da minha comida, da minha companhia...
- Óbviamente não é?
Ela segurou a minha mão.
- Eu vou voltar pra casa ok? Só me dê alguns dias e estarei boa. - ela piscou.
- Assim espero. - eu disse assentindo.
- Não seja boba... - ela me deu um tapa de leve no braço.
Toquei em seu rosto e admirei seu rosto.
- Como está o Raine? - ela perguntou.
- Como sempre. - eu sorri. - Ele sempre está do meu lado para tudo, sabe como é não é?
Ela assentiu sorrindo.
- Que bom que não está sozinha. - ela sorriu.
Apertei mais a sua mão.
- Coma bem ok? - eu pedi. - Fiz coisas que gosta de comer.
- Obrigada.
- Ah, trouxe algumas roupas mais quentes...está começando a ficar frio.
- Ah...o que seria de mim sem você?
- O que seria de mim sem você? - eu disse rindo.
Ela se sentou e entreguei as roupas.
Passamos a tarde conversando sobre a minha escola, as provas, os professores, a vida, etc.
Ela ouvia tudo atentamente.

Voltei pra casa quando estava começando a ficar mais escuro.
Peguei algumas coisas na geladeira e fui para o meu quarto assistir qualquer coisa na tv.

Percebi que havia caído no sono.
- Tenho que desligar a tv...
Abri os olhos e estava na floresta.
Rapidamente esqueci do mundo e aproveitei para curtir o meu mundo.
Olhei ao redor e vi aquelas árvores vermelhas novamente.
Fui correndo para o centro. No caminho fui encontrando novas flores, novas cores, novas formas.
Parei naquele mesmo lugar de onde eu não podia ultrapassar. Onde tinha um banco de praça bem no centro virado para o lado oposto.
Fiquei observando um bom tempo, pois algo estava diferente.
Tinha algo diferente dessa vez.
Tinha uma pessoa lá.Estava com uma capa branca. Eu estava tentando descobrir quem era, mas eu não consegui.
Estava sentada de costas para mim com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ela virou de lado e estendeu o braço direito na minha direção.
Fiquei sem reação. Era um garoto desconhecido.
Ele fez gesto para que eu me aproximasse.
Olhei para os lados com desconfiança de que mais pessoas esperavam por mim, mas não, mas era apenas um pensamento.
Devagar fui me aproximando dessa vez sentindo um pouco de medo.
Ele continuava imóvel. O capuz caia em seu rosto de maneira que eu não pudesse enxergar seu rosto.
Fiquei parada do lado do banco.
Ele não dizia nada e não fazia nada. Eu não sabia ao certo o que fazer. Estava ali parada por um bom tempo e ele não fazia nada.
Devagar sentei ao seu lado de modo que o deixou de costas para mim.
- Eu posso...
- Shhhh..... - ele interrompeu quase de imediato.
Ele tirou um caderno não sei da onde e começou a rabiscar algo. Eu nem tinha percebido que ele carregava algo.
Ele destacou a folha e me entregou ainda de costas para mim.
Ele não podia falar?
Peguei a folha.

"Nunca pensou que poderia comunicar com seu anjo?"

Anjo?
Ah fala sério...
Então eu percebi que ele realmente estava falando sério o que me fez entrar em desespero.
- Ah, meu Deus...vocé é meu anjo? Veio me enviar algum tipo de aviso? Estou prestes a morrer é isso! Não, por que tinha que ser agora? Eu ainda tenho a minha mãe para cuidar e eu não quero que...
- SHhhhhhh! - ele levou o indicador nos lábios.
Me senti uma adolescente tagarela.
- Então...qual o motivo do seu aparecimento? - perguntei.
Ele começou a rabiscar o papel.
Destacou e me entregou.

"Você precisa me ouvir com atenção. Precisa seguir o que eu digo a partir de agora."

Acordei.
A tv ainda estava ligada.
Ah que coisa...agora minha floresta dos sonhos virou ponto de encontro com meu anjo.
Minha nossa, eu realmente tinha falado com meu anjo!

Me aprontei para o colégio. Dei uma ajeitada no cabelo, e coloquei a primeira roupa que avistei. Não estava atrasada dessa vez, eu poderia fazer as coisas com mais calma. Passei o meu café, dei uma olhada na tv da sala e comi algumas bolachas.
Alguém bateu na porta. Olhei pela fechadura e vi Raine parado.
- Bom dia! - abri a porta.
- Bom dia! - ele sorriu. - Posso entrar?
- À vontade...
Ele sentou comigo para tomar café.
- Como foi com a sua mãe?
- Ela estava bem até...não muito, mas parecia bem melhor. Já está falando...
Ele assentiu.
- Você está conseguindo se virar bem aqui sozinha? Não quer que eu fique aqui com você?
- Não, estou bem. Não precisa se preocupar assim e imagine o que as pessoas falariam sobre estar aqui comigo na casa? - eu falei assustada.
Raine riu.
- E precisa contar à eles? - ele ergueu uma sobrancelha.
- Ah, sei lá. - eu dei de ombros. - As pessoas sempre acham um jeito de descobrir tudo o que acontece!
- Não ligue para eles! - deu um tapa no ar.
Eu ri.
- Vamos indo? - perguntei.
- Não esqueceu de nada? - ele apertou os olhos.
Revirei os olhos.
- Tá...já to indo escovar os dentes... - eu disse com preguiça.
Ele sorriu satisfeito.
Escovei de qualquer jeito e logo desci.
Fomos caminhando com calma.
- Como está lá na sua casa? - eu perguntei.
- Está tudo ótimo. Meus pais estão pensando em viajar nessa semana, então a casa será minha. - ele comemorou fazendo uma dancinha estranha.
Eu ri.
- To vendo que já vai fazer a maior festa. - eu disse.
- Ah...só um pouquinho não faz mal.
Entramos na sala. Como sempre, sentamos nas primeiras carteiras e começamos a estudar o resumo do que vimos na aula passada para treinar nossas memórias.
- Bom dia! - professora Beth entrou na sala com aquele sorriso maternal.
- Bom dia! - tive o orgulho de responder.
Ela sorriu para mim.
Eu a adorava. Apesar de lecionar a matéria que eu mais odiava que era geografia, ela tornava tudo tão perfeito!
- É...natal está chegando... - Raine disse.
- Está?
- Sim! Já é 1 de Dezembro! - ele sorriu.
- Nossa! Nem me dei conta disso! - eu acabei rindo. - Caramba...como o tempo passa!
- Ano que vem já é ensino médio eim!
- Graças à Deus! - dissemos juntos.
- Vai mesmo fazer odonto? - perguntei para Raine.
- Sim e você ainda vai fazer medicina né?
- Sim...nunca vou mudar de opinião.
- Isso mesmo! Meu orgulho! - ele abraçou meus ombros com um braço.
Abri o caderno e vi a página em branco.
Lembrei do sonho. "Você precisa me ouvir com atenção. Precisa seguir o que eu digo a partir de agora."
Será que era realmente um aviso, ou era apenas mais um sonho qualquer?
Parecia ser tão sério apesar de ser na minha floresta mágica...
Fechei os olhos e conseguir ver o anjo novamente. Ele parecia um garoto normal apenas usando uma camisola branca.
- Stella, a pergunta 26. - Raine me cutucou.
Acordei dos pensamentos e Beth estava olhando para mim com cara de interrogação.
Olhei meu próprio caderno.
- Erm...a temperatura é maior por estar mais próximo à linha do equador.
- Isso mesmo! Os lugares mais próximos do equador tem sua temperatura maior... - Beth começou a explicar.
Isso nunca tinha acontecido comigo! Eu nunca viajei em pensamentos principalmente em aulas!
Raine me olhou.
- Tudo bem? - li seus lábios.
- Tudo... - assenti.
Sim. Eu tinha falado com meu anjo e ponto. Era real, eu podia sentir.
Fomos para o intervalo. Peguei um suco pronto.
- Coma com maçã. - ele me jogou uma.
- Tudo bem... - assenti.
Sentamos em uma mesa.
- Stella, por que você não faz mais amigos? Seja mais social e...
- Ué? Você me falando essas coisas? - eu ri. - Por que isso do nada?
- Não sei...você não faz amigos, isso me preocupa...
Franzi o cenho.
- Mas...você é meu melhor amigo. Isso já basta! - eu sorri.
- Awwwn, ahh eu sei que sabe, cuido bem de você talz... - Raine começou a brincar. - Mas de verdade, você precisa de amigos, de gente...namorado!
Cuspi o suco na mesa. Atraiu atenção de algumas pessoas do lado que começaram a rir.
- Raine...o que tá havendo? - perguntei assustada.
Ele gargalhou.
- Não foi essa intenção, mas...de verdade, você é muito sozinha.
- Mas eu já tenho você, pra mim já é mais do que bastante.
- O que acontece se não me tiver?
Minha expressão caiu.
- Ah não...Raine, você está escondendo algo que eu não sei? Você vai se mudar é isso? Vai pra algum lugar, não sei...
- Calma...
- Raine, você não vai embora, vai?
- Stella, eu nunca vou te deixar lembra? Eu disse que sempre estarei com você quando precisar! Não é isso! É que, vá que um dia nos separamos e eu tenho medo de você não conseguir arranjar amigos, ou...namorado. - ele riu.
Dei lhe um tapinha de leve.
- Pegue um papel pra limpar isso vá. - ele disse.
Me levantei e fui ao banheiro. Peguei um pouco de papel e saí.
Vi Henrique por cinco segundos olhando na minha direção e depois ele saiu. Dei de ombros e voltei pra mesa. Aquele garoto...ele realmente...
- Raine...você conhece o Henrique? - acabei perguntando.
- Não converso com ele, mas por que quer saber?
- Não sei...ele é meio estranho...nunca conversa com ninguém, fechadão...Será que ele tem problemas?
- Falou aí a amiga de todo mundo... - Raine ergueu os dois braços.
- Tô falando sério! - eu ri. - Parece que às vezes ele tem medo das pessoas, sei lá.
Raine me encarou.
- Tá interessada nele? É isso? Eu to ouvindo certo?
- Eu?! Não, é só...
- Seus olhos estão brilhando, sabia? - ele me interrompeu com um grande sorriso no rosto.
- Raine!
- Ficou brava, é porque está. - ele encostou na cadeira cruzando os braços.
Do outro lado do refeitório, Kai caminhava vagarosamente com as mãos nos bolsos.
- Shhh ele está lá do outro lado. - eu disse.
- Tá com vergonha? - Raine disse rindo.
Tombei a cabeça pra frente.
- Ahhh eu odeio que façam isso comigo sabia? - eu disse.
- Sabia, desculpa. Eu paro. Mas você realmente gosta dele?
- Não, eu só fiquei curiosa.
- Hum... - ele apertou os olhos novamente.
Acabei rindo. Esse garoto nunca perde o jeito.

No caminho de volta, Raine estava tagarelando sobre qualquer coisa.
- Ei, está ouvindo o que eu estou dizendo? - Raine perguntou.
Acordei dos meus pensamentos.
- Desculpe, eu estava pensando em algumas coisas...
- Posso saber o que?
Aqueles sonhos estavam despertando uma dúvida imensa se eram apenas sonhos, ou algo a ver com a realidade. Eu sentia que realmente aquele garoto de branco é meu anjo...
- Ah não. - Raine parou de andar.
Parei também um pouco assustada.
- Você está pensando no Henrique? - ele colocou as mãos na cintura.
- Não! Não estou pensando no Henrique coisa nenhuma.
- Então o que é?
Raine era meu melhor amigo, eu tinha que contar.
- Eu tenho sonhado coisas estranhas... - eu disse.
- Sonhado? Coisas estranhas?
- Sim...Estou sonhando com uma floresta há dias e está me assustando.
- Ah, relaxa é só um sonho...
Raine me olhou nos olhos tentando me acalmar, mas no fundo eu sei que ele estava preocupado.
- Ok... - acabei relaxando. - Vai ver que é apenas um sonho mesmo.
Abri a porta de casa e comecei a preparar a comida para minha mãe.
Coloquei em um pote com todo o cuidado e tomei o caminho para o hospital.

Entrei no quarto da minha mãe e lá estava ela sorrindo como sempre.
- Oi, filha...
Sorri de volta.
- Oi mãe...trouxe sua comida.
- O que temos hoje? - ela perguntou se sentando.
- Fiz arroz, um pouco de feijão, cortei as cenouras do jeito que gosta e a carne está um pouco mais adocicada como costuma comer.
- Obrigada... - ela agradeceu.
Fiquei observando-a comer.

Voltei pra casa e pesquisei coisas na internet. Sonhar com anjos.
"Sonhar com anjos.

Sonhar com anjos é um bom sonho. Simboliza paz e proteção. Significa que deve ter mais cuidado com o estado de espírito."

"Sonhar com anjos

Seu anjo pode estar tentando se comunicar com você."

Fiquei lendo e relendo a última frase.
Aquilo estava me dando medo. Não por ter quase certeza de que estava conversando com meu anjo, mas se ele estava tentando se comunicar comigo, algo complicado está por vir.
Deitei na cama e fiquei observando o teto.
Estava com medo de dormir. Com medo de sonhar. Com medo de saber coisas que eu não queria saber. Medo de surpresas ruins.

Acordei na floresta.
Agachei onde estava e tentei acordar. Não iria adiantar. Eu estava completamente desligada do mundo real.
O lugar continuava lindo e cheiroso. Aos poucos, meu coração estava se acalmando e pude então levantar para ir para o banco.
O mesmo garoto estava lá.
Sentei de costas para ele.
Ele pegou a caneta e começou a rabiscar novamente. Ele demorou um bom tempo.
Depois ele me entregou e saiu andando pela floresta.

"Stella

Tem ido muito bem. Parabéns pela escola, parabéns pelas atitudes, sua mãe está muito feliz. Realmente estou muito orgulhoso.
O que eu tenho pra dizer hoje é: não fale sobre o nosso encontro para ninguém.  Apenas ouça e siga o que eu digo está bem?
Stella, você é muito sozinha. Apenas acha que consegue ficar bem sozinha, mas essa não é a verdade. Parece que tem alguém já cobrando para que arranje amigos e ele está certo."

Lembrei de Raine. Ele realmente disse que eu era muito anti social.
Continuei lendo.

"Daqui pra frente, você vai passar por uma fase meio complicada. Mas estarei aqui para te ajudar e proteger assim como fiz desde o seu nascimento. Portanto, confie em mim e continue forte. Nunca desista em hipótese alguma. Faça a sua parte, o resto deixe para o destino. Amo-te e pra sempre te protegerei."

Olhei para a floresta novamente e ele não estava mais lá.

Acordei de repente.
- Eu sabia que viria coisas ruins. SABIA! - resmunguei.
Me troquei rapidamente.
Fiquei na rua esperando por Raine. Faltavam poucos minutos para o portão do colégio fechar, mas ele não aparecia. Quando faltava um minuto, desisti de esperar e saí correndo.
- Ele deve estar na sala. - conversei comigo mesma.
Cheguei na sala e seu lugar estava vazio.
Peguei o celular e disquei seu número.
Depois de chamar quatro vezes ele atendeu.
- Stella? - sua voz estava rouca.
- Não vai vir para a aula?
- Hoje? Erm...hoje eu não vou..
Percebi que sua voz não era de quem perdeu a hora e sim voz de doente.
- Ei, tá tudo bem? - perguntei.
- Sim. - ele respondeu fungando.
- Ah Raine, pegou gripe é?
- Deve ser... - ele respondeu rindo.
- Se cuida. Depois do colégio vou passar na sua casa.
- Relaxa, estou bem. Não precisa...
- Mas eu vou. - eu disse firme. - Tchau até depois.
Desliguei e abri o caderno.
Estudei normalmente com um pouco mais de tédio. Afinal, era um saco passar as aulas sozinha.
Sozinha.

"Apenas acha que consegue ficar bem sozinha, mas essa não é a verdade"

O anjo estava certo.
No intervalo eu me sentia completamente perdida. Estar sem Raine era horrível.
- Eu quero sentar nessa mesa! Só por isso! - a voz de Gabriel ecoou no refeitório atraindo a atenção de todo mundo.
Gabriel jogou a cabeça para trás soltando o ar parecendo controlar a raiva.
- Será que dá pra sair logo ou precisa ser daquele jeito? -ele disse olhando para baixo.
Inclinei um pouco a cabeça e vi que quem estava ali era Henrique.
- Saia ou eu tenho que... - Gabriel começou a erguer a voz.
Quando eu menos percebi, eu estava na frente de Henrique.
Gabriel me encarou com olhar frio.
- Ele vai sair. - eu afirmei.
Henrique olhou para mim. Forcei o olhar pra ele e ele se levantou sem discutir.
Gabriel e mais uma penca de alunos ficaram nos observando sair do refeitório.
Fomos até a parte de fora no jardim. Parei para olhá-lo.
- Está tudo bem? - perguntei.
Ele continou me olhando.
- Por que você não levantou? Por que ficou ali enfrentando Gabriel? Você enlouqueceu? Ele é louco, poderia ter te batido na frente de todos sem fazer cerimônia...
- Por que me ajudou? - ele me cortou.
Engoli em seco.
- Eu...eu não sei. - respondi.
Ele continuou me encarando.
- Desculpa, eu só queria ajudar. - eu disse.
Henrique parecia estar bravo. Então de uma maneira bem estranha, eu o deixei sozinho sem dizer nada.
- Ele devia pelo menos agradecer... - resmunguei.
Fui para a sala e fiquei esperando as horas passar.

- Você realmente fez isso?! - Raine perguntou.
- Fiz...acha que foi demais? - perguntei.
- Em partes...só acho que você está gostando do Henrique. - ele sorriu.
Acabei rindo.
- Ele me perguntou por quê eu fui ajudar ele, mas nem eu mesma sabia. Quando eu menos percebi eu estava ali no meio. Meu corpo agiu sozinho! Por um momento eu ainda tinha me perguntado o que eu estava fazendo ali!
Ele riu.
- É...sei não... - ele estreitou os olhos.
- Chega vai.
Ele se sentou.
- Não gosto de te ver assim. - eu disse.
Eu estava em seu quarto azul. Ele estava sentado na cama incapacitado de fazer pequenas tarefas.
- Eu vou ficar bem logo, relaxa. - ele sorriu.
- Assim espero. Eu vou pra casa preparar a comida da minha mãe e amanhã eu venho pra te visitar...
Levantei.
- Erm, Stella. - ele chamou.
Virei para ele.
- Você...
Fiquei esperando.
- Deixe quieto. - ele disse.
- Não, agora fale. Começou termina!
- Você... - ele começou a rir. - Você não pode dormir aqui hoje? Por favor?
- Ah...acho que sim! Se você ficar ruim, estou aqui. É uma boa idéia.
Ele sorriu.
- Obrigado. - ele agradeceu.
- Então eu só vou para o hospital e prometo voltar pra cá.
Ele assentiu uma vez e sorriu.

A geladeira de casa estava bem vazia. Fazia tempo que eu não fazia compras no mercado.
Isso porque eu fazia compras com a minha mãe ou com Raine todas as vezes. Eu definitivamente não ia sozinha.
Fiz coisas leves para minha mãe comer. A medida que eu ia cozinhando todos os dias, fui me tornando uma cozinheira de mão cheia!
Coloquei tudo na marmita e fui rumo ao hospital.
- Mãe? - inclinei a cabeça para vê-la no quarto.
- Ah, entre! - ela sorriu.
Entrei de mansinho.
- E aí como está? - perguntei.
- Hoje tive umas dores nas costas, mas acho que é de ficar muito tempo aqui. - ela riu.
Eu ri também.
- Espero que volte logo pra casa...estou sentindo a sua falta... - eu fiz um pedido parecendo uma ordem.
Ela sorriu.
- E voltarei, não se preocupe. - ela sorriu.
Passei a mão nos seus cabelos e ela fechou os olhos. Ela deu uma garfada na marmita e colocou na boca.
- Hummmm está cada vez melhor na cozinha! - ela sorriu.
- Ah...com treino tudo fica bom. - eu ri.
Ela comia tudo com bastante vontade.
- Como está Raine? - ela perguntou.
- Ele está um pouco doente, mas já vai ficar melhor. - respondi. - Hoje vou fazer companhia pra ele.
- Faz bem. Ficar sozinha em casa sempre não vai ser muito bom pra você.
Assenti. Ela estava certa.

A noite, eu fui pra casa e preparei outra marmita para Raine. Cozinhei as coisas que eu sabia melhor.
Preparei as coisas todas e fui indo para casa dele.
Meu celular começou a vibrar.
"Número desconhecido."
Ignorei e deixei tocando até que parou.
Outra chamada do mesmo número.
- Alô? - atendi.
- Stella. - era uma voz grave.
Franzi o cenho não conseguindo identificar de quem era aquela voz.
- Sou eu... - a pessoa disse.
- Eu quem? - eu comecei a pensar que deveria ser trote.
A pessoa ficou muda.
- Se você não... - comecei usar tom de bronca.
- É o Henrique. Tem um tempo?
Fiquei sem palavras.
- Henrique? Como sabe meu numero? - fiquei surpresa.
- Preciso falar com você...está livre agora? Não vou tomar muito de seu tempo.
Olhei para a marmita.
- Acho que sim...por que? - perguntei.
- Me encontre na praça principal.
- Ok.
Desliguei e mudei o rumo.
Cheguei em poucos segundos lá.
- Você foi rápida.
- Ah que susto!!! - virei para trás.
Henrique estava bem vestido. Era a primeira vez que eu o via sem uniforme.
Eu tinha que confessar que ele estava perfeito.
- Eu te chamei aqui pra... - ele começou a dizer.
Olhou pra mim e colocou as mãos no bolso.
- Eu quero pedir desculpas primeiramente. - ele disse. - Eu realmente não devia ter daquela maneira com você. E...obrigado.
Olhei para o seu rosto.
- Não tem problema... - consegui dizer.
Ele assentiu.
- Se der algum problema amanhã, deixe que eu cuido ok? - ele disse.
- Mas...
- Estou te devendo uma lembra? - ele sorriu.
Ele observou o meu rosto o que me fez ficar realmente com vergonha.
- A gente se vê... - ele disse saindo.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Que coisa...

Não espero nada.
Eu não quero nada...
Só peço cinco minutos para ler...
Por favor.

Sabe...eu me lembro de tudo.
Se eu disser que eu lembro de cada detalhe do que aconteceu talvez não acreditaria...
Talvez diria que estou viajando...
Mas pra mim não foi uma coisa qualquer.
Não foi só um acontecimento...entende?

Eu era apenas um criança.
Não sabia de nada.
Não entendia nada.
Nossos pais nos levavam para as competições.
Eles iam para sair da rotina, conversar com os amigos, etc.
Procurei fazer o mesmo.
Saí por aí e encontrei algumas meninas e um menino no meio.
Estavam brincando de esconder e resolvi fazer parte da coisa.
Pensamos em esconder no mesmo lugar. No banheiro. Por que justo o banheiro?
Nos prenderam lá dentro. Pronto.
Ficamos minutos e minutos ali. Era um banheiro apertado, não tínhamos muito espaço.
Não sei por qual razão, mas crianças inventam manias estranhas, fazer coisas estranhas.
O garoto começou a escalar as paredes. Eu apenas observava sem saber o que fazer.
Ele me olhou:
- Você quer um beijo? - ele perguntou.
Fiquei sem reação.
- O que?! - perguntei sem acreditar.
- Um beijo. - reforçou.
Não respondi nada.
- E então? - ele insistiu.
Alguém começou a bater na porta.
Pedi pra que abrissem.
Nos destrancaram.
A partir dai, garoto. Começou.

Todas as competições, reuniões, estávamos ali.
Nós corríamos por todos os cantos, tinha brincadeiras novas, mas sempre...sempre tínhamos que estar no mesmo lugar.
Em todas as brincadeiras, você sempre achava um jeito de me poupar, mas eu nunca percebi.
Sempre fui egóista demais para perceber tais coisas.
Nos jogos de baralho que eu não aceitava perder, lembra? Eu ficava irritada e jogava mais vezes até ganhar. Você apenas ria de tudo e às vezes me ajudava a ganhar.
Quando jogávamos futebol, eu chutava sua canela, te machucava, derrubava, mas mesmo assim você não ligava. Continuava jogando e corria até mais devagar para se igualar às outras meninas também.
E quando escondíamos no mesmo lugar? Várias vezes, você se entregava para que ninguém me achasse. Sempre achava um jeito de eu ganhar.
Você sempre facilitou as coisas pra mim.
Quando fomos viajar pra longe, você sentou ao meu lado quando voltamos dividindo um refrigerante.
Falávamos sobre qualquer coisa, mas eu me divertia.
Uma vez estávamos brincando e de repente ficamos sozinhos e eu nem tinha percebido.
Estávamos sentados na grama.
Senti o nervosismo percorrer meu corpo.
Me olhou e ergueu a mão devagar aproximando do meu rosto.
Com o polegar tocou a ponta do meu olho esquerdo.
- Está...borrado. - ele disse.
Com a mão leve ele tentou remover a maquiagem borrada.
Como odiava ficar com vergonha, por impulso eu mesma arranquei com força.
- Saiu? - perguntei.
- Sim. - ele sorriu assentindo.
Não demorou muito para todo mundo começar a comentar sobre isso.
Em outro episódio estávamos em uma sala vazia. Não sei qual o motivo, mas...o garoto colocou o rosto atrás da cortina.
- Olhe, venha ver! - ele disse.
Coloquei meu rosto atrás da cortina e ele a prensou de leve fazendo-a ganhar forma.
Ele segurava meu rosto em suas mãos com tanta delicadeza...
Eu não sabia por que, mas eu me sentia muito bem perto dele.
Em seguida fiz a mesma coisa para checar o que era interessante.
Segurei seu rosto.
Eu não via nada de legal, mas...eu não queria soltá-lo.
Alguém apareceu na porta.
Era algum adulto que eu não conhecia.
Eu o soltei rapidamente.
Todas as vezes que encontrávamos acontecia coisas especiais.
Pode parecer banal, mas pra mim não foram apenas brincadeiras. Foram lembranças que nunca mais vão se apagar.
Mas...
Certa vez estávamos conversando entre amigos.
Senti um peso nos ombros.
Olhei para o lado e vi que havia passado o braço nos meus ombros.
Eu fiquei muito, mas muito tensa, mas eu não conseguia dizer para tirar.
Eu me senti protegida, sabe?
Estava agindo naturalmente e então eu esfriei a cabeça e deixei acontecer.

Nesse mesmo dia, a noite, todo mundo...resolveu brincar de esconder no escuro.
Todos nós nos escondemos.
E estava do meu lado.
A pessoa do lado de fora contava alto. O tempo estava acabando.
Depois que se esgotasse era silêncio absoluto.
- Tenho algo a lhe dizer. - disse.
- Está acabando o tempo. - avisei.
- Mas...não sinto coragem. - nem ao menos ligou.
- Diz outra hora.
Senti medo. Não sabia o que iria dizer.
Então se calou.
E...depois disso nunca mais conversamos como antes.
Não ia mais com frequencia nas competições. E quando ia, eu apenas o via de longe.
Não participava mais do nosso grupo.
Me lembro em um evento que minha mãe foi cumprimentar seus pais.
Ficamos frente a frente, mas você não disse nada.
- Nossa, parece que nem se conhecem mais! - seu pai disse.
Minha mãe ria.
Abriu um sorriso não de vergonha, mas sim para tentar parecer simpático. Um sorriso que não costumava ser seu.
Pela internet você sempre saia quando eu entrava.
E quando consegui conversar com você, disse que tinha sentimentos por uma garota de outra região.
Então foi como se tudo caísse.
E...muito tempo se passou.
Até que não nos vimos mais.

Percebi que...eu sentia a sua falta.
E os campeonatos tornavam-se entediantes.
Te vi novamente aos 14.
Eu tinha ficado tão feliz.
Mas...havia mudado. Seu cabelo estava diferente, altura...
E estava andando com pessoas que eu não conhecia.
Apenas um cumprimento.

Depois disso, todas as possibilidades de nos ver desapareceu.
Pois quem desapareceu fui eu.
Minha mãe se casou e fomos "obrigadas" a não aparecer mais nos eventos.

Nesses tempos, resolvemos voltar para ver como estavam todos.
Observei aqueles lugares que costumávamos estar. Não havia mudado nada.
Eu apenas pensava e lembrava...como eu era feliz.
Voltei no tempo e em cada canto eu lembrava de algo.
Era como se eu estivesse nos enxergando ali brincando. Rindo.
E então ao entrar lá dentro eu o vi.
Eu quase não podia acreditar que estava te vendo.
Mas estava lá.
Continuava com as mesmas características, mas...parecia bem mais maduro.
Seus ombros largos, cabelos pretos e rosto mais sério não parecia mais aquele garoto.
Estava brincando com seu irmão o tempo todo. O amor que tinha pelo garotinho me fascinava. Isso me fazia ficar cada vez hipnotizada.
Eu enxergava uma aura diferente.
Saí fiquei pensando nas coisas.
Fui para todos os lugares que costumavamos brincar.
Eu juro que se eu fechasse os olhos eu podia ouvir as vozes, sentir aquela sensação novamente.
Era como se eu tivesse entrado em outro mundo.
Naquela época de novo.
Andando por ali achei uma pipa.
Sem pensar, segurei pela linha e deixei o vento bater para que voasse.
- Que bonitinha... - ouvi uma voz.
Olhei para o lado e estava correndo com o garotinho.
Desceram para o campo e jogaram bola juntos.
Eu ficava observando de vez em quando e sentia uma enorme vontade de chorar.
Eu olhava para o seu irmão e percebia o quanto ele parecia com você.
Foi aí que eu percebi que...eu realmente gostava de você.
Queria conversar sobre tudo, voltar a ser como antes...
Mas olhando pra você naquele instante, era como conversar com um estranho.
Nem trocamos palavras.
O tempo todo, eu não consegui pensar em outra coisa.
Me despedi de todos e ao chegar em você, eu tive vontade de dizer tantas coisas.
Mas...você apenas se despediu normalmente.

Ao chegar em casa, não saiu a imagem da minha cabeça.
E assim veio noites de insônia e muuuitas lágrimas.
Uma ainda guardava uma ponta de esperança.
Mas eu sempre lembrava que dizia ser apaixonado por uma amiga minha.

Um dia te chamei na internet pra conversar.
Perguntei se sentia mágoas de mim.
Você disse que não.
Mas mesmo assim lhe pedi desculpas.
Perdão.
Que se errei não sabia o que estava fazendo.
Você disse que não se lembrava.

Já fazem 11 anos sabia?
E...eu ainda guardo todas essas coisas...
Você...se lembra de alguma?
Você sentiu a mesma coisa que senti?
Era pra ser assim?

Eu não acredito que...tudo passou tão rápido e nem percebi que já estava longe demais para alcançá-lo.
Seu sorriso vem só em lembranças.
E agora?
Eu posso gritar até perder a voz, mas você não vai mais me ouvir.
Se ao menos soubesse que cada momento é único e nunca mais se volta.
Não consigo acreditar.
Que eu tinha que ter tomado decisões importantes tão cedo e não havia percebido.
Que meu rumo agora é totalmente diferente do seu.
E que já era.

As risadas.
As piadas.
Os carinhos.
As brincadeiras.
Vão todas ficar guardadas num baú que por sinal já tem bastante poeira.
Eu não mudei muito.
Ainda perco em baralhos.
Ainda chuto canelas.
Será que...você mudou completamente?

Agora eu percebo que sempre, sempre tive o mesmo sentimento por você.
Que eu sempre queria estar ao seu lado.
E isso me deixava cada vez pior.
Tentei depois conversar com você novamente, mas ainda assim...eu sinto que as coisas não vão voltar.
Eu ainda não sei o que estou esperando, mas eu ainda continuo esperando você aparecer de vez em quando.
Eu sei que eu estraguei tudo.
Sei que tudo isso está acontecendo por culpa minha.
Mas eu simplesmente não esqueço.
É bom gostar de você.
Mas não entendo por que tanto!
Se nunca houve nada...

Desculpa, mas é impossível esquecer.
Sabe por que?
As pessoas pedem conselhos e eu respondo o que na verdade eu deveria usar pra mim.
Todas as músicas que eu ouço, caem como luva em tudo isso.
Comecei a estudar na mesma cidade que você, num lugar bem próximo.
E quando menos percebo, você está ali novamente.

Por mais quanto tempo isso vai durar?
Quando vou conseguir me abrir pra outra pessoa?
E se eu disser que eu nunca consegui gostar de outra pessoa, você acreditaria?
Eu fico procurando você em outras pessoas.
É como um padrão entende? haha
Seu sorriso.
Seus olhos.
Sua maneira de falar.
Tudo.
Enfim...
Eu sempre te amei e vou continuar te amando.

Desculpe se ficou confuso, se falei demais ou se eu não deveria ter dito essas coisas. É a primeira vez que eu faço isso, então dá um desconto haha

Obrigada por tudo.