sábado, 24 de janeiro de 2015

Quase Perfeito - CAPITULO 4

Julia voltava pra casa às pressas. Estava com medo de ser perseguida por Gong Yoo novamente.
Acabou relembrando aquele momento. Ela desejava aquele beijo novamente. Queria que eles voltassem, mas...não. Não era mesmo uma boa idéia, por mais que ainda o amasse.
Julia se sentia vazia sem dúvidas. Por mais que se mostrasse fria e decidida, Gong Yoo foi o cara que mais amou na sua vida. Ela jurava que iria passar o resto da vida com ele e nada mais mudaria. Nada.
Simplesmente não imaginava sua vida sem ele.
O que aconteceu foi tão estranho. Nem ela mesma entendeu, só sabe que não se sentiu bem.
Se sentiu suja.
- Não quero mais pensar nisso. - sussurrou pra si mesma.
- Ei. - ouviu uma voz.
Julia olhou para trás tentando disfarçar seu susto e se deparou com um garoto que segurava um estojo quadriculado nas mãos.
- Deixou cair isso. - ele estendeu à ela.
Julia se inconformou com a sua distração. Como não percebeu que tinha caído?
- Sim, deixei. - ela respondeu mesmo que não tenha sido uma pergunta. - Obrigada.
Caminhou até ele e o pegou de suas mãos rapidamente.
- Te...conheço de algum lugar? - ele espremeu os olhos com um leve sorriso.
Por que ele estava sorrindo pra ela?
Ela analisou seu rosto tentando lembrar de alguma coisa, mas não. Ela nunca tinha visto aquele rosto.
Ela continuou observando suas feições, mas cometeu o erro quando percebeu que não estava apenas observando, mas sim admirando. Percebeu que perdeu o rumo de repente em seu sorriso.
Mas foi só por um instante. Não demorou muito para voltar à realidade e tratá-lo como estranho.
- Ah...acho que não. - ela respondeu um pouco perdida.
- Mas...eu conheço o seu rosto. Só não sei de onde. - ele disse com toda a certeza.
Ela assentiu devagar como se estivesse abduzida. Sentia seu rosto corar, mas não conseguia desviar o olhar dele.
Julia é uma garota extremamente inteligente. E não só isso...tem boa percepção e esperteza. Conseguia captar os sentimentos, personalidade de pessoas com muita facilidade.
E estava vendo isso naquele garoto. Era o seu tipo ideal.
Devia ser um pouco mais velho que ela, mas com cara de menino. Cara de maduro, talvez goste de uma bagunça, mas é fofo quando sorri. Do tipo educado, calmo, mas que não perdia o estilo jovial.
- Sim. Eu conheço você. E já sei de onde. - ele disse decidido. - Mas não se preocupe. Sua memória não é ruim. Você não me conhece mesmo.
- Não? - ela estava confusa. - Como pode me conhecer e eu não conhecer você?
Por um momento ela achou que era algum tipo de jogo.
- Julia certo? - ele perguntou.
Ela assentiu ainda meio perdida. Soltou uma risada sem graça e continuou olhando-o ainda sem reação.
- Prazer. GD. - ele estendeu a mão à ela.
Ela apertou de volta devagar.
- Eu tenho que ir. A gente se vê por aí. - ele sorriu e deu de ombros.
Ele passou por ela ainda com um sorriso bobo no rosto e saiu andando com as mãos nos bolsos.
Julia ficou parada observando-o caminhar. Ela se pegou rindo sozinha.
- O que foi isso? - ela perguntou.
Ela estava rindo. UAU.
Caminhou até sua casa rapidamente que estava a metros dali. Largou a sua bolsa em um canto e se jogou no sofá.
- O que foi aquilo? - ela riu. - E por que eu estou rindo feito idiota?
Perdeu a noção do tempo enquanto ficou perdida nos seus pensamentos.


Eu caminhava pra casa como se fosse destruir o asfalto. Meus tênis velhos faziam barulho de salto alto.
E se eu faltasse no jantar?
Putz, minha mãe iria me odiar pra sempre e eu não teria onde ficar.
Hara está trabalhando e Jordana teria o jantar com Namjoon.
Caramba, pra onde vou?!
- Ah, não quero ir pra casa. - resmunguei quase parando no meio da rua.
Meu celular vibrou. Olhei no visor e vi a mensagem de V.
" Ei, está tudo bem? Está indo pra casa agora?" - ele perguntou.
" Sim, estou. Eu juro por Deus que não quero esse jantar. Se eu ficar, acho que será pior do que não ficar." - respondi.
" Paty, não faça besteiras. Apenas aceita. Sua mãe está feliz, olhe por esse lado."
Eu estava olhando por esse lado e e era por isso que eu estava indo pra casa.
" Obrigada, V."
" Sabe que eu sempre estarei aqui por você."
Bloqueei o celular e o guardei no bolso.
Nem sempre.
O que eu queria era ele aqui. Comigo.
E não longe como ele está.
Se ele gostasse tanto assim de mim, por que ele estaria estudando tão longe?
Por que ainda continuávamos juntos então?
- Aish, que droga. - reclamei.
Devia ser esse o motivo de eu estar tão insatisfeita com a vida. Tão azeda.
Depois que Taehyung foi embora para o exterior, minha vida parecia ser um nada.
Eu sinto a falta dele em todas as coisas que eu faço.
        Continuei andando.


Parei na frente de casa por um bom tempo e fiquei trocando olhares com a maçaneta.
- Eu não quero entrar agora. Preciso fazer alguma coisa para me distrair. Algo bom. - eu agia como se tivesse esquizofrenia. - Meu Deus! - bati o pé no chão.
Eu ficava imaginando minha mãe andando de mãos dadas com um cara velho com barriga de cerveja, que solta aquela risada suja por causa do cigarro, com um monte de crianças correndo pela casa, mexendo nas minhas coisas e um garoto pivete que fica o dia inteiro "Paty, me dá isso? Ajuda aqui? Você é chata! Não gosto de você!"
- Ahhh inferno, não, não. Nunca odiei tanto uma coisa antes mesmo de começar. - reclamei.
Olhei para o lado e vi uma garotinha me olhando com um par de olhos abertos feito ovos de codorna em sua bicicleta de cestinha rosa.
- Bicicleta... - pensei em voz alta. - Isso.
Fui até a garagem e peguei a minha bicicleta. Pedalei o maximo que pude.
- Se eu chegar na outra cidade, eu posso dizer que eu tive que ajudar uma velha que estava caida no meio da rua com um monte de sacola. E dai para ajudá-la eu peguei um onibus e acabei me perdendo...não! Estou de bike...
Virei a esquina e chequei os bolsos.
- Droga, estou sem dinheiro. Nem ao menos um café!
Um carro buzinou atrás de mim me fazendo pular de susto.
- Mas que... - olhei para trás.
Tudo ficou confuso, apenas me senti caída no chão.
- Putz... - ouvi alguém dizer.
- Fodeu, cara.
- Ei, você ta bem? Foi mal, mas você foi para o meio da pista de repente.
Eu só sentia minha perna doer. Senti vergonha ao ver as pessoas parando ao meu lado.
- Estou bem. - respondi me levantando as pressas.
Meus olhos cresceram com o tamanho do corte e sujeira do asfalto que tinha entrado embaixo da minha pele.
- Pooooooorraaaa - o garoto de cabelos vermelhos disse ao colocar a mão na boca. - Olha a zica...
Assustei com a gravidade da voz dele. Ele me olhou de volta como se eu fosse assombração.
- Vai assustar a menina! - o loiro disse. - Quer que eu te leve para o hospital? Está tudo bem mesmo?
Encarei o loiro que me olhava super preocupado.
- Está. - respondi rapido. - Eu tenho que ir.
- Desculpa. - o loiro disse. - Desculpa de verdade.
- Não esquenta. - peguei a bicicleta. - Preciso ir.
- Aonde você vai? Eu te levo. - o loiro insistiu.
- Não. Eu vou sozinha. - eu disse meio forte.
Ao virar, percebi que havia uma multidão de verdade ao meu lado. Elas abriram espaço para que eu pudesse passar.
Comecei a pedalar ainda mais rápido.
Fui até uma rua sem saída e desci da bicicleta.
- AAAAAAAI QUE DOR!!! - gritei segurando a perna.
Estava escorrendo muito sangue. O corte estava enorme.
Peguei o celular e liguei para Jordana.
- Atende...atende... - eu chacoalhava as mãos impaciente. - JOH! - ela atendeu. - Preciso de você agora!
- O que...
- Aonde você está?- gritei.
- Em casa, porq...
- Estou indo aí, tchau.
Delisguei e pedalei até a sua casa.
Meu corpo começou a doer ainda mais. Percebi que eu tinha rolado no chão várias vezes. Meu rosto, minhas mãos e minha barriga também estavam sangrando.
Deixei a bicicleta na frente da casa dela e apertei a campainha no mesmo instante.
Ela abriu depois de alguns segundos.
- Joh, me ajuda.
- AAAAAAAA. - ela fez uma cara muito assustadora. - Meu Deus o que aconteceu?! - ela gritou totalmente horrorizada.
Ela olhou o meu corpo e deu um passo para trás.
- Estou tão horrivel assim?! - perguntei.
- Sua perna está aberta!!! - ela tremia enquanto apontava para a minha perna sangrenta.
- Qual é Joh, já lidou com isso... - eu tentava ser mais calma possível.
- Mas você sabe muito bem porque eu não lido mais.
Ela ficou com trauma de sangue depois de fazer um curso pela metade de enfermagem.
- Paty, eu peço pra te levar para um hospital.  - ela disse.
- Joh, você sabe fazer isso!
- Não! Não consigo.
- Se eu continuar perdendo sangue, já sabe o que vai acontecer. - eu a deixei sem escolhas.
- Entra.- ela fechou os olhos e me deu espaço para eu entrar. - Senta no sofá que eu já volto.
Enquanto ela correu para o quarto, dona Jovita apareceu na sala.
- Quem é que...Oh meu Deus Patrícia!!! O que aconteceu?! - ela ficou super assustada.
- Oi... - eu pensei em sorrir, mas não era a situação. - Eu só...fui atropelada.
- Minha nossa senhora... - ela levou as mãos na boca. - Está bem?
- Só machucou de leve, mas estou bem.
- Eu...vou... - ela ficou perdida.
- A Joh já vai me ajudar. Não se preocupe. - eu a tranquilizei.
- Mas como foi isso? - ela sentou ao meu lado.
Antes que eu pudesse dizer, Jordana apareceu com seu kit de primeiros socorros.
- Olha o teu rosto. - ela me entregou um pequeno espelho.
Olhei meu reflexo e fiquei em choque. Parecia que eu tinha voltado da guerra. Minha testa estava toda vermelha, minhas bochechas raladas com pequenas pedras entre as aberturas, e inteira suja.
Um arrepio subiu por todo o corpo.
- Que nojo. - eu disse.
Jordana apoiou a minha perna na sua e começou a passar o algodão molhado.
- Ai meu Deus. - ela parecia estar prestes a chorar.
Suas mãos estava trêmulas.
- Ei, eu passo isso. Me dê. - estendi a mão.
Me limpei rapidamente. A cada passada de algodão eu sentia choques de dor. Tudo estava começando a arder naquela hora. Engoli os gritos de dor e continuei limpando.
As duas assistiam horrorizadas.
Peguei outro pedaço e comecei a limpar os braços.
- Eu vou fazer um chá. - Jovita se levantou indo até a cozinha.
Jordana estava de olhos fechados.
Limpei meu rosto  olhando no espelho.
- Devagar! - ela disse.
- Está doendo! Preciso tirar logo...
- Eu sei! Mas se fizer desse jeito vai ser pior!
Continuei limpando.
- Você está limpando um ferimento, não passando pó compacto no rosto. - ela estava olhando pra mim dessa vez. - Tem que ser um pouco gentil.
Estava com menos sangue dessa vez. Ela estava um pouco mais confortavel, mas ainda assim tremia.
- Eu preciso tirar da sua perna. - ela disse apontando a pinça que eu tinha deixado de lado no sofá.
Entreguei à ela e começou o questionário.
- O que houve? Quando? - ela perguntou.
- Fui atropelada enquanto eu andava na rua de bicicleta, vi se meu bolso tinha dinheiro, ouvi a buzina e eu estava no chão.
- Não te ajudaram?! - ela ficou incoformada.
- Eu não quis ajuda.
- Por que?
- Eram garotos Joh! Da nossa idade...que vergonha. - engoli em seco.
Ela fez careta.
- Caiu muito feio? - ela perguntou.
- Pra fazer essas coisas, acho que sim.  - apontei para os ferimentos. - Nem eu sei. Não vi nada.
- Conhecia? - ela perguntou.
- Não. Mas morri de vergonha com todo aquele povo olhando pra mim. Argh, não quero lembrar.
Ela continuou limpando.
- Paty, você quase me matou do coração agora. Tem noção?
- Desculpa. Mas, eu não quero hospital, muito menos a minha casa.
- Não estou falando do fato de vir aqui assim, mas sim por ter se machucado! Sabe que eu me preocupo muito com você. Aí você me aparece aqui toda arrebentada, quase vomitei meu coração.
- Desculpa Joh...- eu disse novamente.
Ela respirou fundo várias vezes. Aos poucos ela limpou os ferimentos, passou pomadas e fez um curativo.
- Depois de um tempo você tem que deixar ele aberto, ok? - ela perguntou.
Assenti.
Jovita me trouxe o chá pousando as xícaras gentilmente sobre a mesa.
- Eu preciso terminar o almoço. - ela disse voltando. - Fique a vontade Paty, se precisar de mim me chame.
- Obrigada, Jovita. - agradeci.
Peguei a minha xícara e dei um gole. Eu adorava aquele chá.
- Vai no jantar né? - perguntei.
- Sim, vou. - ela disse sem olhar pra mim.
- Vai terminar com ele?
- Acho que sim.
- De verdade? - perguntei.
- Já pensei bastante nisso. É o melhor.
Ela terminou o ultimo curativo e me olhou.
- Quer ajuda pra roupa? - perguntei.
Nós costumavamos a ajudar na escolha das roupas para as ocasiões. Mesmo sendo o jantar desastre.
- Vou de qualquer jeito. Quanto mais largada, melhor. - ela disse.
Ela nunca saia desarrumada. O visual era extremamente importante.
É. Realmente ela vai terminar.

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