Julia se arrumou de qualquer maneira, olhou de relance no espelho e percebeu que sua aparência não estava nada bem. Estava abatida, triste...
- Eu vou assim mesmo. - ela disse decidida. - Vou encarar essa.
Colocou uma blusa e saiu do seu quarto sem fazer barulho.
- Se meu pai acordar agora, acho que eu perco meu pescoço. - ela disse pra si mesma.
Desceu as escadas com o maior cuidado, respirava devagar e pouco.
Chegou na porta e virou a maçaneta com os ombros tensos. Finalmente estava em contato com o ar gelado da madrugada.
Fechou a porta e saiu correndo. Estava morrendo de medo, tinha que confessar. Colocar o pé para fora de casa, já era pedir para ser assassinada, mas...tinha que resolver essa história e acabar com esse tormento o mais rápido possível.
Foi dobrando as esquinas com medo de encontrar alguém estranho, mas para a sua sorte, todas as ruas estavam vazias.
Chegou na frente do colégio, e viu alguém sentado de blusão preto.
Jhope?
Ela ficou parada ali esperando-o dar alguma resposta.
Ele se levantou sem mostrar o rosto e se virou para ela. Ele tirou a touca e a encarou.
Julia sentiu seu chão sumir. Seu mundo desabar.
Sentiu...a morte.
Aquele, não era Jhope.
Julia deu alguns passos para trás e ele veio vindo na sua direção devagar.
- Julia? - ele perguntou.
Ela engoliu um grito alto e saiu correndo. O garoto a perseguiu. Ele corria rápido demais!
Ela já estava cansada pelo caminho que tinha feito até chegar o colégio.
- Não acredito que Jhope armou isso para mim. Não acredito! - ela dizia enquanto chorava e corria.
Ela ouvia os passos se aproximando, mas ela não conseguia correr mais.
Ele segurou seu braço e a olhou.
- Está fugindo por que? - ele perguntou com o queixo erguido.
Julia se concentrou e e fingiu ser ruim. Se soltou dele rapidamente e continuou encarando-o.
- O que você quer? - ela uniu as sobrancelhas.
- Nada. Por enquanto. - ele deu de ombros.
Ela ergueu uma sobrancelha.
- Taemin? - ouviu a voz de Jhope.
Ele se virou para trás.
- O que faz com a minha garota? - ele perguntou sorrindo.
Julia ficou assustada. Aquele era mesmo Jhope?
Ele estava de roupas pretas, e uma máscara cobrindo a sua boca.
- Sua? Desde quando? - ele perguntou.
- Desde algum tempo. - Jhope parou na frente dele. - Vai, se manda.
Taemin a olhou por um ultimo momento e saiu andando.
Julia estava com a respiração irregular. Jhope estava encarando-a.
- Isso...é um sonho ruim não é? - ela perguntou com a voz trêmula.
Ele não respondeu e continuou olhando-a com o rosto sem expressão.
- Jhope...não faça isso com a sua vida. - ela pediu. - Você é tão incrível...não precisa disso para...
- Julia, eu sou assim. Infelizmente. - ele disse com a voz vazia.
Ela desacreditava.
- Por que ser assim? Por que fazer do pior jeito?! - ela gritava.
- É como eu sou. - ele deu de ombros.
Ele parecia estranho. Não parecia ser o Jhope sorridente, que era gentil. Seu jeito estava extremamente rude, até sua voz mudara. Seu olhar profundo estava assustando...
Ele soltou o ar.
- Eu te chamei aqui...pra conversar umas coisas. Esclarecer umas coisas. - ele disse.
Jhope se aproximou um pouco e Julia logo deu um passo para trás.
- Eu não te conheço. Não sei o que fez...não sei por que está acontecendo isso tudo. - ele começou a dizer. - Do passado não sei nada e nem fiz questão de saber. - ele deu de ombros. - Eu só sei o que será daqui pra frente.
Julia não conseguia parar de chorar.
- Tem...muitas..pessoas atrás de você. - ele disse sério. - Se você está pensando que foi traida por mim...o que eu devo pensar de você? - ele estava muito perto.
- Eu não fiz nada!
- Ah não? - ele ergueu a voz. - Então por que todos estão atrás de você, garota?
Ela começou a chorar de medo.
- Logicamente, você não vai dizer. - ele se afastou um pouco.
Ela levou as mãos na boca tentando parar de chorar, mas era impossível. Estava soluçando muito.
- Pelo que eu estou vendo, as coisas estão muito sérias. Sabe quais são as suas chances de sobrevivência Julia? - ele perguntou.
Ela o olhou.
- Só um milagre pode te salvar. - ele disse claramente.
Ela começou a tremer.
- Se você pensa que tem um ou dois atrás de você...você está...extremamente...enganada.
O modo como ele falava assustava ainda mais.
- O que você fez? - ele perguntou novamente.
- Eu não sei! Eu juro que não fiz nada! Juro! - ela disse.
Ele continuou olhando para ela sem um pingo de emoção.
- Antes que pense errado...eu não estou do seu lado. - ele disse. - Eu só quero entender o que está acontecendo. Enquanto eu não souber...ficarei apenas na platéia.
- Você está me assustando. - ela disse.
- Você me assusta ainda mais. - ele disse.
O coração de Julia estava quebrado. Ela tinha um sentimento por Jhope. Vê-lo assim, parecia ser o fim do mundo.
- Eu já te mostrei quem eu sou. - ele disse. - Estou esperando você.
Ele se mantinha de queixo erguido.
- Eu sou assim. - ela dizia. - Eu nunca fingi nada!
Ele olhou o chão.
- Vamos ver o que acontece daqui para frente então... - ele disse.
- Quer dizer que todas as coisas que passamos foi...um nada? - ela perguntou antes que ele virasse as costas para ela.
- Não. Eu fiz o que queria fazer. - ele disse. - Mas não sei se será assim daqui para frente. Não sei quem é você.
Ela não iria convencê-lo de que era tudo um engano.
- Eu não sei o que disseram para você... - ela disse.
- Nada. Não disseram nada. Eu tiro as minhas conclusões. - ele cortou. - Mas só acho que se tem duas gangues atrás de você, coisa boa não é.
Duas...gangues?
- Ou você sabe fingir muito bem... - ele continuou. - Ou deve haver algum engano. Eu poderia acabar com essa história aqui e agora. - ele abriu um pequeno sorriso. - Mas...acho que não me perdoaria se eu matasse um inocente.
Só de ele pensar na possibilidade de Julia ser inocente, já a confortava.
- Posso ser morto daqui para frente. - ele riu. - Pelas gangues...ou mesmo por você. - ele ergueu os braços. - Mas você também. Pelas gangues...ou mesmo por mim.
Ela mal conseguia respirar.
- Vamos ver quem ganha. - ele disse.
Jhope saiu andando pela rua.
Julia estava sentindo muita náusea. Respirar muitas vezes não era bom.
Suas mãos estavam geladas, seu coração parecia parar de bater de vez em quando. Foi uma onda de sentimentos horríveis...
Voltou para casa correndo.
Julia ligou o chuveiro e sentiu aquela água morna confortar-lhe um pouco. Não conseguia parar de chorar um minuto se quer.
- Por que...por que?! O que está acontecendo?! - ela perguntava.
Ela precisava de alguém...mas não queria incomodar.
Vestiu suas roupas rapidamente e pensou em ligar para Joh. Ligou várias vezes, mas ela não atendia.
Ligou para Paty e deu direto caixa postal.
- O que eu faço?!
Olhou o número de Jimin. Hesitou em apertar a tecla para chamar, hesitou novamente e desistiu.
Desligou o celular. Não queria ouvir mais ninguém. Só queria ficar um pouco quieta no seu canto.
Deitou na cama e se encolheu.
Joh acordou assustada.
- Credo...que horror! Que sensação horrível foi essa? -ela perguntou pra si mesma.
Olhou no celular. Vinte e seis chamadas perdidas de Julia.
- Nossa...por que ela me ligou tantas vezes? - ela perguntou. - Aconteceu alguma coisa será?!
Ela ligou de volta, mas deu caixa postal.
- Droga, Julia atende...
Apenas chamava.
Ligou para Namjoon. Ele atendeu no primeiro toque.
- Conversamos no colégio. - ele disse.
Ah droga, aconteceu algo com ela.
Joh se arrumou rápido e saiu de casa feito foguete.
- Se acontecer algo com ela, eu não vou me perdoar. - Joh já estava chorando.
Ela corria o mais rápido do que podia. Ela tentou ligar para Paty no caminho também, mas ela não atendia.
- Alô? - ela atendeu de repente com a voz de sono.
- Paty..Paty...
- J-Joh? - ela perguntou. - O que foi? Tá chorando? Por que?
- Aconteceu algo com você? - ela perguntou rápido.
- Não! Mas...por que está assim? Aconteceu com você?
- Não...pior. Acho que aconteceu com a Julia!
- Como assim?! Pegaram ela?! - Paty se desesperou do outro lado.
- Não sei! Vou conversar com o Namjoon.
- Você vai conversar com quem?!
- Longa história...mas ele está do nosso lado. Relaxa. Tchau. - Joh desligou.
Não tinha quase ninguém no colégio. Joh ficou esperando do lado de fora em um canto escondido.
Namjoon apareceu em poucos minutos.
Ela pensou em chamá-lo, mas seria arriscado.
"Estou no campo de tênis." - ela pensou.
Foi corrrendo pra lá e esperou. Ele logo apareceu.
- Namjoon... - ela começou a dizer.
- Calma...calma... - ele disse se aproximando dela.
- Não aconteceu nada com ela ainda não é?
- Não! Eu lhe garanto! Não fizeram nada!
Joh relaxou.
- Pode me dizer quem são? - ela perguntou.
- Pra dizer bem a verdade...eu não sei.
- Como não sabe?
- Joh...eles não são simplesmente uma gangue qualquer. - ele disse. - Ninguém confia em ninguém. Todos juntos, mas cada um por si. - explicou.
Joh esperou para que ele explicasse melhor.
- Temos vários casos pra fazer. - ele disse. - Eles estão atrás de banco, de uma família, de uma criança, da Julia, de um grupo de jovens, de um papel, de dinheiro, até de um país!
Joh estava espantada.
- Quando fazemos as coisas, uma pessoa nos indica e simplesmente vamos atrás. Geralmente não sabemos quem está com a gente. Só quando a coisa acontece!
Ela engoliu em seco.
- Não sente medo? - ela perguntou.
- Todos sentem. Por isso, agimos de acordo com que todos dizem, ou então...estamos ferrados.
Joh sentia a tensão que Namjoon sentia só de pensar nesse assunto.
- Eu entrei nisso porque eu queria que salvassem a minha família. Tinha uma espécie de máfia atrás do dinheiro da minha família. Acabou gerando um conflito muito grande e eles não queria apenas o dinheiro, mas a morte de todos. Eu fiz acordo com essas pessoas. Elas salvam a minha família e eu entro no grupo.
Ela sentiu o corpo inteiro arrepiar.
- Quando a sua família está em jogo, você não pensa duas vezes. - ele disse. - E foi isso que fiz. Não vou conseguir sair disso nunca mais. A não ser que todos entrem em um acordo, mas...isso é totalmente impossível.
Joh olhava para ele pensando em todas as coisas que deve ter passado. Como foi dificil enfrentar isso...
- Por isso que as vezes a polícia não faz nada. - ele disse. - As vezes eles nos descobrem, mas sempre estamos fazendo justiça. Eles vão nos prender quando estamos ajudando?
Joh assentiu entendendo.
- E sobre a Julia? Por que isso tudo está acontecendo com ela se ela não fez nada? - ela perguntou.
- Não sei. Tem certeza de que...
- Absoluta. Ela é inocente. - Joh cortou.
Namjoon olhou o nada.
- Eu estou tentando entender isso tudo, mas não sei se eles desconfiam de que estou do seu lado, se eles escondem algo, se eles querem me testar, se estão planejando algo...não sei. - Namjoon raciocinava em voz alta.
- O que eles falam para você?
- Nada. Não estou no caso.
- Não?!
- Não. Tudo o que sei, é porque eu fui pesquisando as escondidas.
Joh soltou o ar pela boca.
- Não pode entrar para o caso? - ela perguntou.
- Se eu pedir para entrar, eles me matam.
- Por que?
- Vão saber com certeza de que estou do seu lado! É ser traidor na cara dura!
Joh concordou.
- Façam com que eles te escolham para entrar no caso. - ela disse.
- Como? Já pensei nisso, mas não vejo possibilidades...
- Eu vou pensar em algo e te digo. - ela disse.
Ele assentiu devagar.
Ficou um silêncio perturbador.
- Eu não devia ter te beijado aquela vez. - ele disse. - Tudo bem que a gente briga quase sempre, mas eu acabei entregando de vez.
- Entregando o que? Você fez de zoação... - ela revirou os olhos.
- Ah...eu te aguento esses anos todos de zoação? Eu estou agora do seu lado, arriscando a minha vida por zoação? -ele ficou nervoso de repente.
Joh se calou.
- Eu te beijei por zoação? - ele disse com a voz mais suave.
Ela olhou em seus olhos cheios de lágrimas.
- Tá...desculpa. - ela disse rápido antes que começasse a chorar também.
Ele se afastou um pouco.
- Me desculpe...eu não quis dizer isso... - se arrependeu de verdade.
- Tô indo nessa. - ele disse saindo.
Ela ficou observando ele andar.
- Eu acabei de brigar com a nossa unica esperança. - ela disse soltando o ar. - Joh, você é muito burra..
Ela iria atrás dele?
(Joh decide)
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