Não espero nada.
Eu não quero nada...
Só peço cinco minutos para ler...
Por favor.
Sabe...eu me lembro de tudo.
Se eu disser que eu lembro de cada detalhe do que aconteceu talvez não acreditaria...
Talvez diria que estou viajando...
Mas pra mim não foi uma coisa qualquer.
Não foi só um acontecimento...entende?
Eu era apenas um criança.
Não sabia de nada.
Não entendia nada.
Nossos pais nos levavam para as competições.
Eles iam para sair da rotina, conversar com os amigos, etc.
Procurei fazer o mesmo.
Saí por aí e encontrei algumas meninas e um menino no meio.
Estavam brincando de esconder e resolvi fazer parte da coisa.
Pensamos em esconder no mesmo lugar. No banheiro. Por que justo o banheiro?
Nos prenderam lá dentro. Pronto.
Ficamos minutos e minutos ali. Era um banheiro apertado, não tínhamos muito espaço.
Não sei por qual razão, mas crianças inventam manias estranhas, fazer coisas estranhas.
O garoto começou a escalar as paredes. Eu apenas observava sem saber o que fazer.
Ele me olhou:
- Você quer um beijo? - ele perguntou.
Fiquei sem reação.
- O que?! - perguntei sem acreditar.
- Um beijo. - reforçou.
Não respondi nada.
- E então? - ele insistiu.
Alguém começou a bater na porta.
Pedi pra que abrissem.
Nos destrancaram.
A partir dai, garoto. Começou.
Todas as competições, reuniões, estávamos ali.
Nós corríamos por todos os cantos, tinha brincadeiras novas, mas sempre...sempre tínhamos que estar no mesmo lugar.
Em todas as brincadeiras, você sempre achava um jeito de me poupar, mas eu nunca percebi.
Sempre fui egóista demais para perceber tais coisas.
Nos jogos de baralho que eu não aceitava perder, lembra? Eu ficava irritada e jogava mais vezes até ganhar. Você apenas ria de tudo e às vezes me ajudava a ganhar.
Quando jogávamos futebol, eu chutava sua canela, te machucava, derrubava, mas mesmo assim você não ligava. Continuava jogando e corria até mais devagar para se igualar às outras meninas também.
E quando escondíamos no mesmo lugar? Várias vezes, você se entregava para que ninguém me achasse. Sempre achava um jeito de eu ganhar.
Você sempre facilitou as coisas pra mim.
Quando fomos viajar pra longe, você sentou ao meu lado quando voltamos dividindo um refrigerante.
Falávamos sobre qualquer coisa, mas eu me divertia.
Uma vez estávamos brincando e de repente ficamos sozinhos e eu nem tinha percebido.
Estávamos sentados na grama.
Senti o nervosismo percorrer meu corpo.
Me olhou e ergueu a mão devagar aproximando do meu rosto.
Com o polegar tocou a ponta do meu olho esquerdo.
- Está...borrado. - ele disse.
Com a mão leve ele tentou remover a maquiagem borrada.
Como odiava ficar com vergonha, por impulso eu mesma arranquei com força.
- Saiu? - perguntei.
- Sim. - ele sorriu assentindo.
Não demorou muito para todo mundo começar a comentar sobre isso.
Em outro episódio estávamos em uma sala vazia. Não sei qual o motivo, mas...o garoto colocou o rosto atrás da cortina.
- Olhe, venha ver! - ele disse.
Coloquei meu rosto atrás da cortina e ele a prensou de leve fazendo-a ganhar forma.
Ele segurava meu rosto em suas mãos com tanta delicadeza...
Eu não sabia por que, mas eu me sentia muito bem perto dele.
Em seguida fiz a mesma coisa para checar o que era interessante.
Segurei seu rosto.
Eu não via nada de legal, mas...eu não queria soltá-lo.
Alguém apareceu na porta.
Era algum adulto que eu não conhecia.
Eu o soltei rapidamente.
Todas as vezes que encontrávamos acontecia coisas especiais.
Pode parecer banal, mas pra mim não foram apenas brincadeiras. Foram lembranças que nunca mais vão se apagar.
Mas...
Certa vez estávamos conversando entre amigos.
Senti um peso nos ombros.
Olhei para o lado e vi que havia passado o braço nos meus ombros.
Eu fiquei muito, mas muito tensa, mas eu não conseguia dizer para tirar.
Eu me senti protegida, sabe?
Estava agindo naturalmente e então eu esfriei a cabeça e deixei acontecer.
Nesse mesmo dia, a noite, todo mundo...resolveu brincar de esconder no escuro.
Todos nós nos escondemos.
E estava do meu lado.
A pessoa do lado de fora contava alto. O tempo estava acabando.
Depois que se esgotasse era silêncio absoluto.
- Tenho algo a lhe dizer. - disse.
- Está acabando o tempo. - avisei.
- Mas...não sinto coragem. - nem ao menos ligou.
- Diz outra hora.
Senti medo. Não sabia o que iria dizer.
Então se calou.
E...depois disso nunca mais conversamos como antes.
Não ia mais com frequencia nas competições. E quando ia, eu apenas o via de longe.
Não participava mais do nosso grupo.
Me lembro em um evento que minha mãe foi cumprimentar seus pais.
Ficamos frente a frente, mas você não disse nada.
- Nossa, parece que nem se conhecem mais! - seu pai disse.
Minha mãe ria.
Abriu um sorriso não de vergonha, mas sim para tentar parecer simpático. Um sorriso que não costumava ser seu.
Pela internet você sempre saia quando eu entrava.
E quando consegui conversar com você, disse que tinha sentimentos por uma garota de outra região.
Então foi como se tudo caísse.
E...muito tempo se passou.
Até que não nos vimos mais.
Percebi que...eu sentia a sua falta.
E os campeonatos tornavam-se entediantes.
Te vi novamente aos 14.
Eu tinha ficado tão feliz.
Mas...havia mudado. Seu cabelo estava diferente, altura...
E estava andando com pessoas que eu não conhecia.
Apenas um cumprimento.
Depois disso, todas as possibilidades de nos ver desapareceu.
Pois quem desapareceu fui eu.
Minha mãe se casou e fomos "obrigadas" a não aparecer mais nos eventos.
Nesses tempos, resolvemos voltar para ver como estavam todos.
Observei aqueles lugares que costumávamos estar. Não havia mudado nada.
Eu apenas pensava e lembrava...como eu era feliz.
Voltei no tempo e em cada canto eu lembrava de algo.
Era como se eu estivesse nos enxergando ali brincando. Rindo.
E então ao entrar lá dentro eu o vi.
Eu quase não podia acreditar que estava te vendo.
Mas estava lá.
Continuava com as mesmas características, mas...parecia bem mais maduro.
Seus ombros largos, cabelos pretos e rosto mais sério não parecia mais aquele garoto.
Estava brincando com seu irmão o tempo todo. O amor que tinha pelo garotinho me fascinava. Isso me fazia ficar cada vez hipnotizada.
Eu enxergava uma aura diferente.
Saí fiquei pensando nas coisas.
Fui para todos os lugares que costumavamos brincar.
Eu juro que se eu fechasse os olhos eu podia ouvir as vozes, sentir aquela sensação novamente.
Era como se eu tivesse entrado em outro mundo.
Naquela época de novo.
Andando por ali achei uma pipa.
Sem pensar, segurei pela linha e deixei o vento bater para que voasse.
- Que bonitinha... - ouvi uma voz.
Olhei para o lado e estava correndo com o garotinho.
Desceram para o campo e jogaram bola juntos.
Eu ficava observando de vez em quando e sentia uma enorme vontade de chorar.
Eu olhava para o seu irmão e percebia o quanto ele parecia com você.
Foi aí que eu percebi que...eu realmente gostava de você.
Queria conversar sobre tudo, voltar a ser como antes...
Mas olhando pra você naquele instante, era como conversar com um estranho.
Nem trocamos palavras.
O tempo todo, eu não consegui pensar em outra coisa.
Me despedi de todos e ao chegar em você, eu tive vontade de dizer tantas coisas.
Mas...você apenas se despediu normalmente.
Ao chegar em casa, não saiu a imagem da minha cabeça.
E assim veio noites de insônia e muuuitas lágrimas.
Uma ainda guardava uma ponta de esperança.
Mas eu sempre lembrava que dizia ser apaixonado por uma amiga minha.
Um dia te chamei na internet pra conversar.
Perguntei se sentia mágoas de mim.
Você disse que não.
Mas mesmo assim lhe pedi desculpas.
Perdão.
Que se errei não sabia o que estava fazendo.
Você disse que não se lembrava.
Já fazem 11 anos sabia?
E...eu ainda guardo todas essas coisas...
Você...se lembra de alguma?
Você sentiu a mesma coisa que senti?
Era pra ser assim?
Eu não acredito que...tudo passou tão rápido e nem percebi que já estava longe demais para alcançá-lo.
Seu sorriso vem só em lembranças.
E agora?
Eu posso gritar até perder a voz, mas você não vai mais me ouvir.
Se ao menos soubesse que cada momento é único e nunca mais se volta.
Não consigo acreditar.
Que eu tinha que ter tomado decisões importantes tão cedo e não havia percebido.
Que meu rumo agora é totalmente diferente do seu.
E que já era.
As risadas.
As piadas.
Os carinhos.
As brincadeiras.
Vão todas ficar guardadas num baú que por sinal já tem bastante poeira.
Eu não mudei muito.
Ainda perco em baralhos.
Ainda chuto canelas.
Será que...você mudou completamente?
Agora eu percebo que sempre, sempre tive o mesmo sentimento por você.
Que eu sempre queria estar ao seu lado.
E isso me deixava cada vez pior.
Tentei depois conversar com você novamente, mas ainda assim...eu sinto que as coisas não vão voltar.
Eu ainda não sei o que estou esperando, mas eu ainda continuo esperando você aparecer de vez em quando.
Eu sei que eu estraguei tudo.
Sei que tudo isso está acontecendo por culpa minha.
Mas eu simplesmente não esqueço.
É bom gostar de você.
Mas não entendo por que tanto!
Se nunca houve nada...
Desculpa, mas é impossível esquecer.
Sabe por que?
As pessoas pedem conselhos e eu respondo o que na verdade eu deveria usar pra mim.
Todas as músicas que eu ouço, caem como luva em tudo isso.
Comecei a estudar na mesma cidade que você, num lugar bem próximo.
E quando menos percebo, você está ali novamente.
Por mais quanto tempo isso vai durar?
Quando vou conseguir me abrir pra outra pessoa?
E se eu disser que eu nunca consegui gostar de outra pessoa, você acreditaria?
Eu fico procurando você em outras pessoas.
É como um padrão entende? haha
Seu sorriso.
Seus olhos.
Sua maneira de falar.
Tudo.
Enfim...
Eu sempre te amei e vou continuar te amando.
Desculpe se ficou confuso, se falei demais ou se eu não deveria ter dito essas coisas. É a primeira vez que eu faço isso, então dá um desconto haha
Obrigada por tudo.
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