segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Reinos dos Meryns CAP 21

                - Acho que não. Preciso saber como posso...
                A voz me forçou a acordar.
                - Ela acordou.
                Eu não conseguia enxergar com clareza, mas podia ver dois vultos pretos à minha frente.
                - Lia, não se mexa. – o mais próximo ordenou.
                Ao respirar fundo senti a lateral do pescoço latejar. Lembrei-me das lâminas quase tirarem a minha vida.
                Quase perdi a vida três vezes.
                - Ainda está sangrando. – o mesmo disse.
                Eu estava reconhecendo aquela voz. Parecia ser de Kai, não sei.
                Meus olhos se acostumaram com a claridade e vi o rosto de Nichkhun e Kai se formar.
                - Nichkhun! Nichkhun, você tá... – tentei me levantar.
                Meu pescoço doeu.
                - Está sangrando de novo. – Kai disse.
                - Kai... – eu disse quase sem voz.
                Nichkhun olhou pra ele, e Kai sorriu.
                - Oi Lia. – ele disse com a voz firme.
                - Acabou? – perguntei.
                - Já acabou, fique tranquila.
                - O que aconteceu?
                - Você salvou a minha alma. Só isso. – Kai disse super feliz.
                Nichkhun voltou a olhar pra mim.
                - Você também salvou a minha. – Nichkhun disse.
                Tentei sorrir.
                - Mas você se sobrecarregou. – Nichkhun terminou.
                Eu estava com uma tremenda dor de cabeça.

                Kai me obrigou a comer um pouco.
                Quando finalmente consegui me levantar sentindo o corpo velho e acabado, olhei no espelho e vi um corte gigante no pescoço aberto que não parava de sangrar.
                - É. Vai demorar pra isso parar. – Kai coçou a cabeça atrás de mim.
                Eu estava muito feliz por conseguir entender o que ele dizia.
                Sua voz era tão única.
                - Lembra que eu disse que nós não morremos? – Nichkhun perguntou.
                - Sim...
                - Na verdade, se o nosso corpo for “desfeito” nós deixamos de existir.
                Eu fiquei tentando entender.
                - Então, essas lâminas fazem com que sangre um bom tempo. A intenção é sangrar até que ele seque.
                Fiquei assustada.
                - Mas...nós já passamos algumas plantas que vão ajudar a parar. Taeyeon já cuidou disso.
                Assenti.
                - Obrigada... – agradeci aos dois.
                Kai passou o braço pelo meu ombro e percebi o quanto ele realmente fazia parte de mim.
                Eu não poderia viver sem ele, afinal ele era minha outra metade sem dúvida.
                Nichkhun sorriu.
                - Onde está Chanyeol? Eu não o vi depois que tudo terminou.
                O sorriso de Kai se desfez. Senti um arrepio só de pensar naqueles olhos negros.
                - Chanyeol não...é um Meryn. – Kai disse.
                Nichkhun o encarou um bom tempo tentando raciocinar.
                - Como nunca havia pensado nisso antes?! – de repente ele ficou bravo. – Eu nunca desconfiei de nada...
                - Eu sabia, mas não tinha como provar. – Kai disse.
                - Eu fui inocente. Nem sabia de nada... – eu disse mais pra mim mesma do que para eles.
                Kai me apertou um pouco mais.
                - Já foi. Ele já não está mais aqui, não tem com o que se preocupar. – Kai disse olhando para meu irmão.
                De repente me veio a imagem na cabeça.
                - Cadê? – perguntei. – Onde está a Deusa? Ela está bem? – perguntei.
                - A Deusa? Sim, por que? – Nichkhun perguntou.
                Os dois ficaram assustados.
                - Ela...quase me matou ontem a noite...e ela agia de forma muito estranha.
                Os dois se olharam.
               
                Joh.

            - O que faremos com os novatos? – um guerreiro cujo nome não me recordava me perguntava com desespero.
          - Cremar é a única saída. – respondi sem muito pensar.
          - Certo. – ele saiu correndo.
          - Tenho os dados concretos, Deusa. –Kris apareceu com os papéis.
         Ele era sempre muito atencioso.
         - Obrigado, Kris... – agradeci.
         Ele colocou o punho no coração e se curvou.
         Peguei o papel de sua mão e conferi.
         - 856 mortos...é isso mesmo? – perguntei.
         - Reconhecidos. – ele disse com um certo desconforto.
         Realmente essa guerra foi intensa.
         - Deusa? – Kris inclinou a cabeça de lado para ver meu rosto.
         - Me desculpe Kris, disse algo?
         - Não... – ele sorriu. – Mas pelo que já te conheço, você não está nada bem.
         Soltei o ar e acabei cedendo.
         - Realmente Kris...não estou bem. Além de muitos Meryns mortos, tem acontecido coisas estranhas comigo.
         - Que tipo de coisas estranhas? – ele perguntou.
         - Não sei bem explicar, mas sinto que algo está errado. Ainda vou descobrir o que é não se preocupe.
         Kris ficou pensativo, mas acabou assentindo.
        
         Fechei os olhos e vi aquela cena novamente. Eu estava lutando incontrolavelmente, mas...eu sentia que aquela era eu.
         Minhas mãos não paravam de se movimentar.
         Me lembro de ter visto o rosto assustado de Lia. Eu estava apontando a a espada em sua direção.
         Desejei que aquilo tivesse sido um terrível pesadelo, mas ao encontrar Lia sob cuidados de Nichkhun eu conseguia enxergar a lembrança em sua mente muito clara.
         Siwon me acordou do pesadelo com facilidade. O que ele fez?
         O que mais me deixa apavorada, é que de 856 Meryns mortos, sabia que pelo menos 50 deles eu causei.
         Inconsciente, mas consciente.
         Sabia que estava fazendo, mas fiz contra a minha vontade.
         O que havia acontecido comigo?

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